Por Jacqueline Vilela

Em 2017 foi o jogo da Baleia Azul. Em 2018, o mais novo assunto entre os pais é o jogo SimSimi, um programa coreano, disponível para celular e computador desde 2014, que simula um bate-papo entre o usuário e um personagem virtual e que só agora começou a ser assunto no Brasil.

A restrição é para 16 anos, mas é fácil incluir um perfil. Eu, por exemplo, consegui criar sem dificuldades um perfil colocando o ano de 2008 (perfil para uma criança de 9 anos). O simpático boneco amarelo parece inofensivo, mas contém propostas sexuais, palavrões e ameaças.

Sempre que aparece um jogo perigoso como este eu recebo um monte de pergunta dos pais: Como perceber? Como evitar? Como proteger os filhos? Controlo o uso da Internet? Como conversar com o filho?

Essa é uma questão profunda e complexa nos dias de hoje. Como pais, estamos vivendo um período difícil: O Brasil é a nação que apresenta o maior índice de depressão da América Latina, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nos últimos 10 anos o número de suicídios aumentou 40% entre crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. Entre os jovens de 15 a 19 anos o crescimento foi de 33%. E como “paramos” de divulgar as estatísticas em 2014, esse número pode ser ainda pior.

Um ano se passou desde que o jogo da Baleia azul veio à tona e os índices de automutilação (cutting) entre os jovens e de suicídio não diminuíram, o que nos faz perceber que não aprendemos a trabalhar com a raiz do problema. Agora a bola da vez é SimSimi, mas pode ter a certeza de que outros jogos virão.

São os ônus de uma geração que possui acesso cada vez maior às tecnologias e à informação e que, por causa disso, estão perdendo a capacidade acessar duas coisas essenciais para uma mente saudável: O acesso a ele mesmo e o acesso a nós, os pais.

Espero com este artigo contribuir um pouco para que os pais comecem uma jornada de resgate da essência dos filhos. A seguir, dicas preciosas sobre como olhar para toda essa situação:

1) Encontre um jeito do seu filho se conectar com o mundo interno dele, mesmo que hoje ele não apresente sintoma nenhum

O mundo de hoje pede calmaria. Pede reflexão, espaço interno para pensar.

O mundo de hoje massacra os jovens em vestibular e competição, em notas e selfs perfeitas.

Atividades que proporcionem prazer ao seu filho são fundamentais. Yoga, meditação são extremamente (e cada dia mais) essenciais. Porque é preciso silenciar. Outros tipos de esporte, que extravasam a carga emocional também.

Eu aprendi a meditar para ensinar a minha filha. Eu acredito que podemos levar os nossos filhos a navegar por mares que já navegamos, então eu aprendo e ensino e por isso eu tive primeiro que aprender o quão difícil é silenciar a minha própria mente. Sempre que a minha filha está inquieta e faz drama, eu me lembro de que o lugar que ela está naquele momento eu também visito muitas vezes.

E nesse momento eu sou capaz de ajudá-la porque eu digo: Eu sei, eu entendo, eu acolho. Quero te ajudar a sair daí porque eu sei o quão assustador isso é.

E você, como se conecta com o seu mundo interior? Como pode ajudar o seu filho a se conectar com o mundo dele?

2) Uso de tecnologia, o Excesso que desregula o cérebro. Desconecte-se.

Quando eu criei o meu programa online Detox Digital, que é para ajudar a equilibrar o excesso de tecnologias da vida dos filhos, eu me dei conta de que eu precisava de um Detox também.

Talvez você precise aprender antes, assim como eu. Se desconecte para ensinar o seu filho a se desconectar. Já está comprovado que o excesso (tempo de uso) aumenta a depressão e ansiedade nos jovens. O cérebro não foi feito para tanta informação ao mesmo tempo e o sono é extremamente prejudicado. Muita informação libera cortisol, desregula a quantidade de dopamina e causa mais ansiedade, agressividade e falta de concentração.

E novamente eu vou te pedir para experimentar primeiro. Fique sem se conectar, sem celular, sem mensagens o dia todo, sem grupos de Whatsapp. E sinta. Sinta como pode ser difícil para você, adulto, consciente, com muita bagagem de vida. Imagine para o seu filho, que nem sabe o que é viver sem tecnologias?

Faça acordos com o seu filho sobre os horários de uso, mas cumpra também esses acordos. Busque opções de lazer em família, pratique alguma atividade física e saia, vá para o ar livre com o seu filho, tome sol. Vai fazer um bem danado para vocês.

3) Converse sobre emoções com os seus filhos

É desafiador falar sobre as nossas emoções. Não fomos ensinados a isso, mas agora você precisa aprender.

Converse sobre os seus medos, as suas angústias. Mostre para o seu filho como você supera tudo isso, é importante para eles sentirem que não estão sós nos conflitos e que é possível sair dos problemas.

Em conversas no almoço e no jantar falem sobre o que estão sentindo naquele dia, ou em uma caminhada, fazendo alguma tarefa da casa, passeando com o cachorro. E comece sempre falando de você, sobre os seus desafios.

Talvez aqui você perceba que precisa de ajuda. Se não consegue resolver os seus desafios, se as suas questões estão afogando você, busque ajuda. Indo primeiro, navegando primeiro, desbravando primeiro, você mostra para o seu filho o caminho.

Não cobre dos seus filhos a coragem de enfrentar os problemas. Mostre para ele como você enfrenta os seus.

4) Não se afaste do seu filho, mesmo que ele te peça isso

Depressão é coisa séria, doença e não frescura. Seu filho vai tentar esconder de você, por vergonha, por medo.

Você já teve a oportunidade de conversar com alguém depressivo? Eles estão lutando e muitas vezes essa luta pode ser solitária. E se cansarmos, ele cansa também.

Se o seu filho mandar você sair, fique. Escute. Abrace. E faça tudo para que ele saiba que não está sozinho.

Busque novamente ajuda para você conseguir passar pela fase de turbulência. Não adoeça junto, não perca as esperanças e cuide-se. Seu filho precisa da sua clareza.

Não se esconda na vergonha. Não se esconda na culpa. Não se esconda em frases como “vai passar”, “aborrescente é assim mesmo”. Peça ajuda, por você, por ele.

5) Converse com o seu filho, sempre.

Conte a sua história para o seu filho. Por incrível que pareça os pais não fazem mais isso.

Converse com o seu filho quando nada disso estiver em pauta, quando apenas for o dia a dia. Sobre amenidades, sobre política, sobre religião, sobre a escola, sobre sexo, sobre escolhas, sobre desafios.

Desligue mais a TV, o celular e converse mais, olhe nos olhos, se interesse, ouça bastante, pare de dar respostas prontas para tudo, reconheça os esforços do seu filho, mostre os valores da família, peça desculpas pelos seus erros, repreenda, seja firme, mas mostre acima de tudo que existe um caminho melhor.

O contato, a conversa, a presença é que te trará pistas quando o comportamento do seu filho mudar.

6) Fale sobre isso com mais amigos, com a comunidade, com a escola

Que tal participarmos mais? Já falou na escola sobre o assunto? No seu prédio, que tal organizar uma palestra sobre o assunto?

Precisamos nos manter unidos. Mais do que nunca é preciso uma comunidade inteira para educar um filho. Porque corremos o risco do movimento parar na mesma velocidade que começou, simplesmente porque daqui a algum tempo o jogo SimSimi vai cair do esquecimento, até que outro jogo surja para nos acordar.

Adorei o nosso bate papo hoje. Obrigada por me ouvir. Me fala agora quais as suas sugestões, quero muito saber.

Compartilhe essa mensagem.

Com amor, Jacqueline.