Por Jacqueline Vilela

Os pais geralmente dão muita atenção para os filhos pequenos. Querem o melhor para eles, desde carrinhos de bebês, berços e roupinhas, até revistas e grupos engajados para garantir-lhes a melhor infância.

Costumam buscar orientações e se tornam participantes assíduos em fóruns para entender desde coisas corriqueiras até atitudes do comportamento, como o choro e a birra.

Mas o tempo vai passando, os filhos vão mudando e os pais vão se cansando ou automatizando a educação. É como se toda a carga emocional da educação fosse concentrada na fase das descobertas iniciais, do nascimento aos primeiros anos de vida, e todo o resto viesse de modo automático.

Quando o filho entra na pré-adolescência e posteriormente na adolescência, os pais acabam ficando sem saber como agir e também já não encontram mais tantas informações acessíveis de modo prático e simples, como nas fases anteriores.

Um exemplo claro disso apareceu quando recentemente tentei fazer uma pesquisa nas redes sociais, em sites e revistas e encontrei apenas informações soltas e desconectadas para os pais de adolescentes.

Enquanto no Facebook comunidades de mães grávidas, de bebês pequenos e de crianças chegam a marcas de 200 mil curtidas e engajamentos diários dos participantes, comunidades de pais de adolescentes batem a humilde marca entre 400 e 1.000 curtidas, no máximo.

O engajamento também é mínimo. Quando há, infelizmente gira em torno de um assunto bem mais sério e já instalado nas famílias, como o uso de drogas, a gravidez precoce e a depressão dos adolescentes.

A maioria dos pais que me procura já está com problemas com os seus filhos adolescentes e com aquela sensação de que fez tudo errado. Então eles se culpam por tudo: por não terem percebido os sinais, por não terem sido presentes, pela rigidez, por soltar demais, por não saberem o que fazer agora.

Se você é mãe ou pai de um pré-adolescente ou adolescente, o momento de ajustar (ou começar) a educação emocional do seu filho é hoje. Garanto que você pode evitar grande parte dos problemas futuros, mas isso vai exigir uma mudança no olhar para esse seu filho adolescente.

A MUDANÇA NO OLHAR É A SOLUÇÃO…
Eu agora convido você a pensar de um modo novo sobre essa fase do seu filho. É importante desconstruir a visão de adolescência como uma fase de crise e de rótulos como “aborrescente”, intolerante, irresponsável, rebelde etc. Esses rótulos não ajudarão em nada, pelo contrário, apenas deixarão você no piloto automático quanto à criação do seu filho, sem ter a possibilidade de agir para ajudá-lo na nova fase da vida dele.

Você precisa construir um olhar para a própria adolescência e para seu adolescente de modo único e novo e entender que os recursos usados até o momento não serão mais suficientes para lidar com a situação. Mais do que mandar, você agora terá que se tornar mestre em influenciar, em exercer a sua autoridade mais do que o seu autoritarismo.

Por isso, convido você agora a deixar para trás frases ou conselhos prontos que ouviu em algum lugar, como:

• “Aborrescente” é tudo igual.

• A culpa é do meu filho, que se tornou um preguiçoso e não quer saber de nada.

• Que fase chata, espero que passe logo.

• Nada do que eu falo ele aceita, então parei de falar.

Comece a olhar para o fato de que muitas coisas estão acontecendo com esse adolescente. Imagine que seu filho era criança e agora não é mais, mas também ainda não é considerado adulto. Ele precisará achar esse lugar no mundo, um lugar para ocupar. Mas ao mesmo tempo os hormônios estão a todo vapor e a preguiça (tão criticada pelos pais) vem como uma consequência dessas mudanças.

Sim, em alguns dias o seu filho estará de bom humor e em outros não, as reações serão mais imprevisíveis do que antes (por isso o controle não resolve), a tendência à desobediência aumentará, assim como o negativismo e a oposição às regras já estabelecidas.

Não, o seu filho não será muito aberto a diálogos com você, não do modo com que você se acostumou. E você, que é o adulto nessa situação, terá de encontrar novos modos de chegar até o coração dele.

Você tem um novo ser em casa, que agora precisa de você (embora não admita) para lidar com as próprias instabilidades emocionais.

Muitas das atitudes do seu filho pré-adolescente ou adolescente são gritos para dizer ao mundo: “Eu estou aqui, eu existo e eu quero um espaço. Eu já não ocupo mais o espaço da criança e não ocupo ainda o espaço do adulto, então eu quero encontrar o meu espaço”, e o fato de discordar em vários aspectos é a forma que ele encontra para se afastar do mundo dos pais, deixar de ser o bebê da mamãe e o filhinho do papai para conquistar a própria autonomia e a independência.

Mudar o seu olhar vai permitir que você entenda que, ao mesmo tempo que os padrões da adolescência sejam comuns, o seu filho é único e você precisa descobrir a chave para continuar (ou voltar) a ser o educador da vida dele.

SE OS SEUS VALORES NÃO FOREM SÓLIDOS, SEU FILHO VAI QUESTIONAR…

É também nessa fase que o seu filho mais questionará logicamente a sua conduta. Uma casa sem fundamento dá lugar a uma briga por territórios, pela razão acima de qualquer coisa e pelas proibições sem explicações. Ao perceber que foi colocado na parede sobre uma atitude ou hábito que exige, mas não pratica, a mãe ou o pai pode atacar e perder a razão na argumentação.

Ter um filho adolescente é ter atenção redobrada. Ao contrário do que fazem os pais, não é se afastar, mas sim criar mais intimidade através de um forte sentido de pertencimento à família.

Se o seu filho entende que aqueles valores aprendidos são bons e são praticados, poderá querer pegar os valores para essa fase de transição. Se ele sentir que os valores ditos são corrompidos pelos pais, pode querer buscar novos valores.

Todas as lacunas causadas na adolescência serão preenchidas. Pense que o seu filho está montando um grande quebra-cabeças e precisará de referências. Se ele acreditar que os valores familiares não são concretos e verdadeiros, automaticamente buscará essa peça em outro lugar para construir o modelo de vida para si mesmo.

UMA EDUCAÇÃO NO AMOR CONTINUA SENDO A SOLUÇÃO NESSA FASE…
A minha missão é trabalhar com os pais de adolescentes antes de enfrentarem problemas mais sérios, com a prevenção, a conscientização de que é possível continuar educando os filhos em todas as fases da vida dele.

E eu garanto que a educação emocional é a melhor e mais eficiente arma para ajudar o seu filho em qualquer momento da vida dele, inclusive pré-adolescência e adolescência.

Sim, eu defendo uma educação no amor. Para os pais de crianças pequenas é bem fácil explicar esse conceito e conseguir que as crianças apliquem, mas para os pais de adolescentes nem tanto, porque requer um esforço diferente e certa habilidade nos relacionamentos.

O que seria uma educação no amor?

A educação no amor é investigativa e baseada no respeito pelo outro, sempre.

Investigativa porque parte da ideia de que todos nós estamos em constante mudança e que cada fase merece uma nova forma de acolhimento.

Baseada no respeito pelo outro porque identifica que sempre temos duas partes em uma relação, e a parte que possui o maior recurso, a maior consciência (neste caso, os pais), é a responsável por manter o equilíbrio da comunicação, entendendo que o outro merece ser ouvido e validado.

Essa mesma educação no amor é incondicional. Quando você condiciona o seu amor baseando-se nas atitudes do outro, acaba entrando em conflito. É como se estivesse mandando uma mensagem para o seu filho: “Eu só te amo se…” (você for educado, não me responder, não questionar minhas atitudes, não for bem na escola, não for tão preguiçoso).

Condicionar o amor é o grande responsável pela “sensação” que os jovens têm de que não estão sendo amados pelos pais. É como se um turbilhão de coisas estivesse acontecendo, e ao mesmo tempo a cobrança pela perfeição sempre estivesse presente.

Coloco “sensação” entre aspas porque sei que os pais amam os filhos, mas se esse amor não for inteiro, presente e consciente, os filhos não conseguirão sentir. Educar no amor é diferente de sentir amor pelos filhos.

A atenção nessa fase será diferente das fases anteriores, que podia ser mais física, com abraços e beijos. Agora o carinho dos pais deve ser expressado na atenção e na empatia, mostrando ao filho que você compreende o que está acontecendo naquela fase da vida dele e que não é indiferente a esse momento.

Respeitar a necessidade de ser diferente do seu filho dará a você uma imensa abertura, inclusive para ensiná-lo a ser diferente a partir de situações positivas e não negativas.

AMOR INCONDICIONAL NÃO É PERMISSIVIDADE INCONDICIONAL

Mas, se eu amar incondicionalmente o meu filho, terei de deixá-lo fazer o que quer?

A resposta é não. Amar incondicionalmente não é permitir tudo, está longe disso.

A educação no amor também entende que o respeito precisa ser cultivado e as regras, estabelecidas. O ponto-chave está na coerência dessas regras e na atenção de que elas devem valer para a família também e não apenas para o adolescente.

Exigir respeito quando você desrespeita, exigir honestidade quando você não é honesto com os filhos são atitudes que abalam a relação de amor.

Deixar os filhos soltos não é prova de amor, ao contrário, é prova de que você está com medo. Medo de educar e não ser amado pelo seu filho, medo da frustação dele e dos diálogos que surgirão por causa desse “não”. Muitos pais usam a desculpa do amor para não educar, o que é um grande erro que será colhido na pré-adolescência e na adolescência.

VOCÊ PLANTOU, VOCÊ VAI COLHER…

Pense em uma semente, que é o seu filho. Conforme ele vai crescendo, você vai regando, nutrindo e preparando o solo para que seja fértil. É claro que a educação na infância merece toda a atenção, mas o ponto é que o seu filho, quando pré-adolescente, ainda não virou uma árvore forte e precisa que você continue regando e cuidando do solo.

Você não pode colocar água demais nem de menos. E nessa fase você ainda tem que ensinar o seu filho como ele deve fazer para também regular a quantidade de água de que vai precisar para crescer forte e saudável.

Explicando melhor: a sua missão de mãe ou pai nessa fase é ajudar o seu filho a extravasar essas emoções da maneira correta, de modos saudáveis e que faça sentido para esse jovem. Se você insistir em entrar em confrontos diretos ou desistir, estará deixando o seu filho para decidir totalmente sozinho como vai derramar essa vasilha cheia que ele carrega.

Se o seu filho não encontrar um bom modo de extravasar os seus excessos, ele se transformará nos próprios excessos e daí vem a maioria das dores e dos jeitos errados de lidar com a vida.

Perceba, enfim, que em cada fase do seu filho você tem uma oportunidade única de ajudá-lo a ser mais feliz e conectado, e que não olhar para isso é um grande erro, um dos maiores erros que os pais podem cometer.

Se você errou nas fases anteriores, o pior a fazer agora é nutrir a culpa. Acredite: você pode reverter muito mais a situação se entender que existe o momento de acertar a mão e voltar a cultivar amor na vida do seu filho, do modo correto.